Burning Man

Black Rock City, uma cidade offline, da escassez, com clima apocalíptico que funciona intensamente, 24 horas no meio do deserto.

por André Sada – Sócio diretor do Grupo All

O tabu Burning Man, muitos chamam de lugar mais próximo do inferno, muitos chamam de um lugar mais próximo do paraíso. De fato, existe um sentimento imaginário dessas alusões, um lugar muito rico e complexo de informações e detalhes.

Por trás disso tudo existe uma história grande contada e explicada através de uma
espécie de Bíblia do Burning Man com suas histórias e filosofias.

Mas falando do evento, ele requer muito planejamento e resiliência para ir e enfrentar esses 9 dias; e mais que tudo, é preciso estar com a cabeça boa. Tem bastante da cultura militar americana, preparo como se fosse pra uma semiguerra. Viemos dias antes para os US para que pudéssemos nos organizar e nos preparar da melhor forma. Aqui, a riqueza e o luxo é poder ter água, conseguir tomar um banho, ter uma privada limpa, um lugar fresco e limpo para dormir; o conforto e abundância são trocados pela escassez e esse é um dos principais pilares do evento.

Ao chegar na entrada da cidade do deserto, o ritual é ser recebido por um abraço de voluntários que fazem parte da organização. Batemos um sino e tivemos que rolar na areia e ficar como se fossemos um “camarão empanado”. Ali já se percebe que não vai poder ter qualquer tipo de frescura dali para frente.

Existe um certo receio e insegurança antes de vir, mas depois que chega é algo mágico, surreal, sensação de estar literalmente em outro planeta. Tudo parece fazer sentido depois de todas as dificuldades passadas para chegar até aqui; um lugar que pela imensidão e pela cor da areia diria ser Marte, por outro lado uma sensação de estar em um Balneário de uma praia no apocalipse ressecada e sem o mar, um balneário enorme inimaginável para quem vai pela primeira vez, uma cidade montada por 9 dias no meio do deserto, impossível de acompanhar tudo que acontece, são centenas de eventos acontecendo simultaneamente, uma programação intensa para todos perfis e idades, de cultura, sustentabilidade, esportes, games, kids, música, bem-estar, esoterismo, gastronomia, pirotecnias, programação adulta, workshops, debates com núcleos de tecnologia e futuro, diversos tipos de cultos, rituais e muitas festas com os principais DJs do mundo da música eletrônica de vanguarda, um dos principais motivos que atraem muitos jetsetters do mundo inteiro pra cá. Muitas empresas de tecnologia e criatividade do mundo pontuam com suas equipes e organizam seus camps com workshops como a NASA, Google, Tesla, entre outras, tudo com discrição, sem exposição e qualquer tipo de comunicação ou alarde.

Não existe dinheiro e comércio, não existem marcas ou ativações do mundo tradicional, tudo é feito com base na gentileza e troca. Você pode entrar nos campings para comer ou beber, as pessoas passam oferecendo comida, sorvetes e bebidas nas ruas enquanto você anda de bicicleta. O voluntarismo é outro pilar forte do evento, todos estão sempre prontos a ajudar.

Você pode acompanhar a programação de tudo que está acontecendo através de um livreto que se recebe na entrada de Black Rock City ou através do aplicativo “iburn”, que funciona offline, onde mostra tudo o que está acontecendo, onde comer e o que comer e as distâncias a pé ou de bike. Em frente à cidade ou no meio “desse balneário” onde deveria ser o mar coincidentemente ou não, chama-se La Playa, nesse “mar seco” tem movimentação 24h com os Art Cars (espécie de carros alegóricos, todos fantasiados e com muita luz, DJs e música; muitos viram palcos para festas), as obras de artes psicodélicas e pessoas desfilando com suas bicicletas e pequenos carros decorados e cheios de luz e irreverência naquela escuridão. A cada minuto é uma surpresa na La Playa.

A avenida que era pra ser a “Atlântica” ou avenida da orla é chamada de Esplanade, na frente dessa avenida intensa pelo trânsito das bicicletas estão os principais camps mais estruturados e mais agitados, uma sensação louca de estar a 100 anos atrás e ao mesmo tempo 100 anos à frente, uma sensação de voltar à infância andando de bicicleta naquela escuridão e vendo todas aquelas luzes coloridas que as pessoas colocam nos camps, nas artes, nas roupas e nas bicicletas como se fosse estar num grande parque de diversão e ao mesmo tempo de ser muito adulto pra enfrentar tudo aquilo feito no mais alto nível de inteligência, complexidade e preparo.

A cidade é montada em formato de relógio, os nomes das ruas são baseados nas horas e se perpendiculam com as primeiras letras do alfabeto, fácil e prático de se localizar.

Durante o dia encontram-se família , crianças, jovens e velhos, depois se torna literalmente um mundo de adultos com festas de gente grande, pessoas preparadas para aquilo, todas com muito estilo e aparentemente completo domínio de tudo que está acontecendo e ninguém se preocupando com o que os outros estão pensando e olhando. Não existe regra e jeito de se vestir, se portar ou dançar.

Todos são responsáveis pelo seu lixo, sua energia e sua água.

A organização, o respeito, controle e segurança são dignos de primeiríssimo mundo, sensação de que tem uma câmera 24h observando tudo que você está fazendo. As pessoas cuidam de Black Rock City como se fosse sua casa, tratam um como uma terra e campo sagrado, mas por outro lado sensação de liberdade extrem; isso é outra coisa maluca desse lugar.

Isso não é um evento, mas sim uma reprodução de uma sociedade moderna com todos elementos do passado vivendo essa essência sem acesso a comunicação e ao mesmo tempo de futuro com sensação de liberdade mas tudo com muita inteligência , sensação de que é um povo que fica entocado o ano todo e sai somente para esses 9 dias do Burning Man.

Muitos não gostariam de voltar para a sociedade normal, outros não aguentam o tranco dessa experiência radical de muitos contratempos, porém com certeza é uma experiência única de amadurecimento e vanguardismo pessoal e profissional, todos que mexem ou trabalham com entretenimento , arte, música e moda de fato devem conhecer esse lugar.

O Google em 2019 comprou 51% do Burning Man, porém eles não compraram um evento, compraram uma sociedade com a maior destilação de pessoas de bom gosto e com mente criativa, uma experiência sensorial, mental e psicológica completa. A Google é a maior empresa de experiência online e agora detém a maior experiência do mundo offline, o Burning Man!

Obrigado @robertoscafuro pelo suporte, @suguarezi pela assistência, @deoxidiized por nos hospedar, @grupoall pelo apoio e @victormaiztegui por me acompanhar nessa dura e divertida jornada de muitos aprendizados

#burningman2023 #animalia #blackrockcity #resilience

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